domingo, agosto 06, 2006

FRITZ LANG

Há trinta anos, em Beverly Hills, California, morria Fritz Lang. Encerrara uma carreira de perto de 50 filmes em 1960 , com Os Mil Olhos do Doutor Mabuse. Lang saía de cena retomando um personagem que criara na década de 1920, no filme Doutor Mabuse, o Jogador - um ente diabólico que usa os seus talentos, inclusive hipnóticos, para semear o mal - que aparecia em mais dois filmes.
Com o nome de Friedrich Christian Anton Lang, ele nasceu em 1890 em Viena, onde também nasceram Josef Von Sternberg, Billy Wilder, Fred Zinnemann e Otto Preminger, todos os cinco terminando por fazer carreira no cinema americano. Mas bem antes de chegar aos Estados Unidos, Lang construiu uma sólida carreira no cinema alemão, tornando-se um dos mais expressivos nomes do Expressionismo, inaugurado em 1919 com O Gabinete do Doutor Caligari, de Robert Wiene, em cujo roteiro dizem que colaborou.
Quando fez M..., o Vampiro de Dusseldorf (1931), o prestígio de Lang atingira o topo. Sua destacada posição não passou despercebida ao governo alemão (já com Hitler afiando as garras), que, através de Goebbels, Ministro da Propaganda, convidou-o para dirigir o cinema do país. Este é um fato já contado um milhão de vezes. Lang finge-se honrado com o convite, aceita-o, mas, ao sair da audiência, arruma as malas e foge para a França e depois para os Estados Unidos, onde adquire a cidadania daquele país. Thea Von Harbou, sua mulher e colaboradora, adepta do governo de Hitler, não o quis acompanhar.
Embora tenha feito filmes importantes, inclusive em Hollywood, não resta dúvidas que "M"... é o maior de todos. E dos maiores do cinema. Na enquete que Moacy Cirne promoveu recentemente no seu Balaio Vermelho, consultando mais de 60 cinéfilos sobre os 20 maiores filmes de todos os tempos, o de Lang figurou entre eles, recebendo, inclusive, o voto do cineasta Luiz Rosemberg Filho (Assuntina das Américas). É o seu primeiro filme falado. Ele levou quatro anos para aderir ao som, e, nesse período, realizou dois filmes mudos. Esse fato, contudo, não indica uma atitude misoneísta de Lang em relação à inovação técnica; inclusive, não se sabe de nenhuma opinião dele desfavorável ao emprego do som. Ao contrário de René Clair e, principalmente, de Chaplin, Lang viu certamente no som mais um recurso à disposição para os fins pretendidos; e se não o experimentou na primeira hora é porque, talvez, tivesse preferido antes avaliar as suas potencialidades para, então, usá-lo como um elemento que servisse à linguagem. E de fato em "M"... o som foi utilizado de uma forma não apenas criativa, mas, para a época, revolucionária. Eis o que escreveu Luiz Nazário em seu livro De Caligari a Lili Marlene (Global Editora, 1983) a esse respeito: "Pela primeira vez no cinema uma frase dita no final de uma cena era prolongada no começo da outra, acelerando o ritmo da narrativa e reforçando dramaticamente as associações de idéias contidas nas cenas seguintes".
No cinema desse diplomado em Arquitetura, que, também, experimentou a pintura, combatente na Primeira Guerra Mundial (na qual perdeu a visão do olho direito), o indivíduo luta em vão contra forças aparentemente superiores e invencíveis (no caso do personagem de "M"..., a enfermidade, que o leva a estuprar e assassinar crianças). Ele próprio confessou em entrevista que o tema com esse indivíduo está presente em toda a sua obra. "É uma obsessão minha, mais do que um tema recorrente", acrescentou.
Depois de se aposentar, Lang apareceu como ator em O Desprezo (Godard), interpretando a si mesmo. Estreou no cinema em 1919, com Halbblut. E no cinema americano com Fúria (1936), um dos seus melhores trabalhos em Hollywood. Admirado por alguns dos seus pares, como Buñuel e Hitchcock, Fritz Lang, nas palavras do francês Jean Tulard, "nos deu uma grande aula de cinema".

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