sábado, junho 09, 2007

CINEASTAS VERSUS CRÍTICOS


A relação entre cineastas e críticos foi sempre conflituosa. Não é impossível que um crítico e um cineasta se tornem amigos pela vida inteira, mas isso só pode se dar se o primeiro for um incondicional admirador do segundo e jamais deixe de regatear louvores aos seus filmes, até mesmo os menos bem realizados. E são casos isolados. A regra é que os dois convivam como cachorro e gato. E não só no cinema essa relação entre o criador de uma obra e o que a analisa é marcada por conflitos que chegam até à agressão física; nas demais artes o problema existe, principalmente na literatura.
Um programa a que assisti no EuroChannel nesta semana mostra perfeitamente a dificílima convivência entre diretores e críticos. O programa é bem realizado. Dividido em partes, cada uma apresentando um título, alterna depoimentos de integrantes das duas categorias. Entre os diretores, Almodóvar, Wim Wenders, Woody Allen, Ken Loach, Manoel de Oliveira, entre os mais conhecidos e prestigiados. Há opiniões e revelações muito interessantes de ambas as partes e vou reproduzir algumas.
Entre as alfinetadas de Almodóvar nos críticos, guardei especialmente esta: que quando se pergunta a uma criança o que ela deseja ser quando se tornar adulta, ela jamais responderá que deseja ser um crítico de cinema. O alemão Winders faz uma confissão de espantar. Ao dizer que o que mais lhe desagrada nas críticas desfavoráveis aos seus filmes é o fato de elas poderam atingir também os seus atores, revela que um ator de um filme dele quase chegou a cometer suicídio, tão deprimido ficou com os comentários do crítico. Já um cineasta da nova geração que não consegui identificar (o programa comete uma falha imperdoável: a a de não creditar o nome do depoente), menciona um comentário extremamente maldoso de um crítico sobre um filme de um colega. Escreveu o crítico que no tal filme a sequência inicial mostra um homem dormindo em uma cama: na sequência final aparece um casal dormindo também em uma cama. E arremata dizendo que, entre essas duas sequências, as cenas induzem ao sono...
Eu falei atrás em casos até de agressão física. Pois bem, dois críticos contam que foram vítimas de um diretor enfurecido. No caso de um crítico irlandês, a agressão não foi tão violenta. Num programa de televisão, provavelmente na Inglaterra, em pleno ar, a uma certa altura de uma discussão entre ele e o diretor Ken Russell, este o bateu em cada lado do rosto com um exemplar do jornal que continha o texto do crítico sobre um filme do realizador de "Mulheres Apaixonadas". Mas o crítico brasileiro Rubens Ewald Filho levou um tapa, em duas ocasiões, de um mesmo diretor, cujo nome não revelou. Seu compatriota, evidentemente.
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JEAN-CLAUDE BRIALY
Semana passada morreu o ator Jean-Claude Brialy. Nascido na Argélia, como Camus, em 1933, Brialy foi uma das presenças marcantes na Nouvelle Vague. Trabalhou com os principais diretores daquele Movimento, como Godard, Truffaut e Chabrol. De Chabrol atuou nos seus dois primeiros filmes, "Nas Garras do Vício" (1958) e "Os Primos" (1959), em ambos contracenando com Gérard Blain, já falecido.
Foi também diretor, tendo realizado 12 filmes, alguns para a tevê. Não conheço nenhum desses filmes, dos quais, salvo engano, apenas "Os Indiscretos Pingos da Chuva" (1974) foi exibido no Brasil, pelo menos no circuito comercial. Em seu "Dicionário de Cinema - Os Diretores", Jean Tulard elogia o realizador Brialy, chamando a atenção para a ênfase de um acentuado clima de nostalgia em sua obra. Em contrapartida, o já citado Rubens Ewald Filho, no seu "Dicionário de Cineastas", afirma que, a julgar pelo seu único filme visto no Brasil, Brialy não demonstrava um mínimo de talento para a direção. Sou tentado a pensar que se o crítico tivesse dito isso na França, talvez fosse estapeado pela terceira vez.

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