quarta-feira, dezembro 06, 2006

UMA TEMÁTICA DA VIOLÊNCIA?

O diretor Sam Pecinpah (1925-1984) ficou estigmatizado pelo grau de violência utilizada em boa parte de seus filmes. De fato, há, por exemplo, num filme como "Meu Òdio Será Sua Herança" (The Wild Bunch /1969, que revi, recentemente em DVD) , momentos em que a violência parece excessiva, chegando a causar um desconforto, até um mal-estar, no espectador. E foi, talvez, por isso, que Peckinpah não teve o seu talento melhor avaliado pela crítica (ou parte dela). Mas tomando "Meu Ódio Será Sua Herança" como referência. Sob aqueles intensos jorrar de sangue e troar de tiros é possível perceber um posicionamento crítico de Peckinpah, o que o exime da pecha de utilizar a violência de uma forma gratuita. Logo no início, o filme mostra um grupo de garotos observando um escorpião atacado por vermos, ao qual depois eles ateiam fogo. A imagem dos garotos, atentos à agonia do escorpião, coincide com a chegada do grupo, chefiado por Pike Bishop (William Holden) , que vai assaltar um banco. Pouco tempo depois tem início um tiroteio intenso entre os assaltantes e pistoleiros contratados pelo administrador da ferrovia.
A presença de crianças, em meio a cenas de violência, se faz sentir ao longo da narrativa. Já perto do final, algumas assistem, divertidas, ao suplício de um membro do grupo, arrastado por um cavalo. Esse detalhe estimula a pensar que o diretor entende a violência como um elemento entranhado no homem, já desde a infância. Ela seria para Peckinpah também uma forma de o homem elevar-se moral e espiritualmente, tal como ele apresenta o personagem de Dustin Hoffman em "Sob o Domínio do Medo" (The Straw Dogs /1971) .
E não se pode esquecer a importância que o americano, em geral, dá à arma de fogo. Até existe nos Estados Unidos uma associação de cultores de armas (o nome completo não lembro,, mas nele está inserida a palavra rifle) , cuja presidência foi exercida por algum tempo por sabem quem? Charlton Heston, que trabalhou com ele em "Juramento de Vingança" (Major Dundee/1965). Ao expor assim a violência, será que Peckinpah não pretendia mostrar o que acontecia no seu próprio país? Além disso, como lembrou alguém nos depoimentos constantes dos "Extras" de "Meu Ódio Será Sua Herança", a sua carreira foi construída, em boa parte, durante a guerra no Vietnam, e a presença desse longo conflito marcou muito a vida de seus compatriotas, mesmo os que não participaram dele. A violência, então, em seus filmes funcionaria como uma forma de temática, mesmo que de uma maneira que incomodava, perturbava as pessoas. Chegando a levar a crítica (ou parte dela) a tratar esse neto de um cacique indígena a tratá-lo apenas como um talentoso executor de cenas de um fortíssimo impacto.
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UM ARTISTA NA PIOR
Ele trabalhou em filmes , como "Os Fuzis" (Rui Guerra), "A Falecida! (Leon Hirszman), "A Gramde Cidade" (Cacá Diiegues) , "O Desafio" (Paulo César Saraceni) . Nos anos 1960 a ditadura militar o fez ir pra Itália, onde trabalhou por lá em filmes de pouca importância. Está com 5l anos no batente. Mas está desempregado, passando necessidades. É um ótimo ator. Mas está na pior. Estou falando de Joel Barcelos, sobre quem assisti a uma matéria num desses canais de tevê por assinatura. Peguei a matéria nos últimos ciinco, seis minutos finais. Aos 70 anos, aparenta bem mais, o rosto envelhecido está marcado de manchas. No final, a entrevistadora faz uma pergunta embaraçosa a ele. Falando de Glória Pires, com quem ela trabalhou na Globo, pergunta se ele não quer pedir uma ajuda à atriz. Chamando-a de Glorinha e dizendo que a conhece desde criança, pois foi amigo do pai dela (o comediante Antônio Carlos) , Barcelos não responde à pergunta, a repórter pergunta se o orgulho o impede de recorrer a Glória e a outra atriz, cujo nome não guardei. Ele faz um gesto que dá pra gente entender. É uma situação constrangedora. Pois é, aí está um ator talentoso, vivendo em grandes dificuldades, não sei como está conseguindo sobreviver. Senhores que hoje mandam no cinema brasileiro. Olhem para esse ator, dêem-lhe uma oportunidade. mesmo que a culpa seja dele por estar nessa situação (dizem que tem um temperamento difícil e durante um certo tempo teve problemas com o álcool), mas não é um crápula, como, por exemplo, boa parte dos nossos homens públicos. Não roubou ninguém, não se aproveitou da credulidade das pessoas ingênuas. Vão atrás de Joel Barcelos. Além de estarem praticando uma boa ação, terão em seus filmes a presença de um ator de grande qualidade.

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