quarta-feira, novembro 15, 2006

POR QUE GOSTAR OU NÃO DE UM ATOR (OU ATRIZ)?


A morte recente de Jack Palance me fez lembrar de um colega dos meus tempos de estudante em Fortaleza. Ali estava um fã de carteirinha do ator de Shane. Enquanto gostávamos dos atores que faziam o papel de mocinhos, ele gostava de Jack Palance. De todos os cinéfilos que conheci, foi o único a admirar Jack Palance. Uns gostavam, mas pela sua qualidade como ator e jamais sem o fervor do meu colega. Quando viu "Átila, Rei dos Hunos", ficou revoltadp com a armadilha que os inimigos de Átila prepararam contra ele, para capturá-lo. Achara uma "sacanagem". Ouvindo-o, parecia que tinha sido Palance em pessoa que sofrera o golpe, pois, em vez de falar o nome de Átila, falava o nome do ator. Os colegas o gozavam por essa idolatria a um ator que a maioria abominava. Pensando nele, imaginei, se ainda estiver entre nós, como recebeu a notícia da morte do seu ídolo. Mas talvez ele já não goste de Palance, como naqueles anos distantes.
Um amigo aqui de Natal é tiete de Richard Widmark, ator ainda vivo e perto dos 92 anos. Ísso desde os tempos de solteiro. Das atrizes, a belezinha Natalie Wood era a sua preferida. Mas ele gosta ainda mais de Widmark. Ele demonstrou essa preferência em um de nossos inumeráveis encontros num bar, na companhia de mais dois amigos. Quatro cinéfilos juntos, era mais do que natural que o cinema fosse o assunto predominante. Pois numa vez um de nós lhe fez a segunte pergunta: "Galego, se você tivesse a oportunidade de conhecer ou Natalie Wood, ou Richard Widmark, qual dos dois você escolheria"? Ele não pensou um segundo para responder que preferiria o ator de "A Última Carroça". Não sei se foi nessa noite que ele, num momento em que ia levar o copo à boca, fez-nos um brinde, imitando o mesmo gesto do ídolo num filme dele exibido naqueles dias em Natal.
Curioso isso. Deve haver uma explicação para alguém gostar tanto de uma pessoa, ao grau de uma adoração, a qual ele jamais verá em pessoa. Não é apenas a admiração pelo talento do ator. No caso desse meu colega de Fortaleza, já é um caso de empatia por um ator que ele idolatrava. Ele sentiu a "sacanagem" , não contra o personagem, mas contra o ator, e como se estivesse no lugar de Palance. Alguma coisa a gente vê num ator, que nos faz desejar que ela tenha sido o nosso pai, ou um tio, ou o irmão mais velho, até mesmo um amigo. E sentir tanto a sua morte.
Por outro lado, existem aqueles atores e atrizes que são detestados por algum espectador. Em sua fase de crítico de cinema, Vinicius de Moraes antipatizava pra valer com uma atriz, tanto quanto adorava Marlene Dietrich. Era Jane Powell, que trabalhou em musicais da Metro, que teve um certo prestígio nas décadas de 40 e 50 (entre seus filmes, destaca-se "Núpcias Reais", com o extraordinário Fred Astaire). Ele chegou a escrever-lhe um poema , manifestando a ojeriza que tinha por ela, poema que lhe rendeu algumas cartas desaforadas de fãs da atriz. Uma vez li um artigo de um jornalista em que ele dizia que Sérgio Porto (o Stanislaw Ponte Preta) não ia com a cara de Marlon Brando. Mas não ia mesmo, ao ponto de questionar o talento de Marlon. Um canastrão, na opinião de Sérgio Porto. Conta o articulis ta que ele costumava dizer, quando era contestado pela sua opinião, "vocês, um dia, ainda vão me dar razão". Grande Stanislaw, nessa você errou redondamente.
Já eu tenho o "meu" ator. Isso desde jovem. É o James Mason. Gosto de outros, mas ele é o meu preferido. Por, outro lado, para citar só um exemplo, e de um ator vivo, não simpatizo com Gerard Depardieu, ainda que reconheça o seu valor como intérprete. Já vi muitos filmes dele, mais pelo diretor ou por um outro ator ou atriz do elenco dos quais goste. É isso. Talvez os estudiosos da mente, como o meu irmão Bosco, possam ter uma explicação para isso.

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