domingo, dezembro 18, 2005

O SEGREDO DE VERA DRAKE (VERA DRAKE/2004)

Vão sendo mostrados os primeiros créditos e quando aparece, em destaque, o título Vera Drake, o lado direito da tela abre-se e vemos uma mulher caminhando. Em seguida, a tela fica cheia e a mesma mulher está numa casa prestando assistência a um velho enfermo. Algum tempo depois, ela é vista no trabalho de induzir uma jovem a abortar, uma cena que se repetirá duas ou três vezes. E à medida que O Segredo de Vera Drake vai se desenrolando, fica patente que o diretor-roteirista Mike Leigh não pretende se posicionar a favor ou contra o aborto. A intenção, clara, é a de destacar a bondade de uma mulher casada, mãe de um casal de filhos, de ajudar mulheres a se livrarem do filho indesejado. Bondade, sim, pois Vera Drake faz esse "serviço", sem receber pagamento. Quem lucra é uma desonesta conhecida dela, encarregada de informá-la das mulheres que querem interromper a gravidez. Como todas as pessoas que praticam o bem (embora , no caso, o aborto seja considerado um crime, pelo menos na Inglaterra de 1950, a época em que se passa a história), Vera é uma ingênua, uma pura, que jamais desconfiou de que estava sendo usada pela outra. E, também, vítima de inveja, no caso da esposa do irmão do seu marido.
Como se vê no início do filme, ela também socorre outras pessoas mais velhas e doentes, levando-lhes algum alimento e tendo sempre para elas uma palavra de conforto. Um personagem assim altruísta, que, apesar das dificuldades financeiras por que passa, junto com o marido, vivendo de fazer faxina nas residências, não reclama da vida e está sempre bem-humorada, tem tudo para se tornar um alvo em potencial da pieguice e do sentimentalismo. Mas Leigh, com o talento já demonstrado em Segredos e Mentiras, sabe como driblar esse perigo e conduz o filme com energia, mas com uma segurança e uma sobriedade elogiáveis. Até mesmo nas cenas em que Vera é confrontada com os policiais e não pode conter a emoção, o filme não descamba para o melodramático. Talvez também porque ele conta com o talento de Imelda Staunton, que tem uma atuação admirável no papel de Vera, sem excessos, sem exageros. E são cenas de forte carga dramática, que, nas mãos de um diretor e de uma atriz de pouco potencial, causariam danos irreparáveis ao filme. Vale aqui ressaltar o momento em que Vera, envergonhada pelo que fez, diante dos policiais, encosta a boca no ouvido do marido e lhe faz a bombástica confissão. Uma cena feita de silêncios, mostrando a expressão de pasmo do companheiro de tantos anos anos, que nunca suspeitara do "segredo" que a esposa guardava em seu íntimo.
É ainda importante que se fale do comportamento dos policiais, entre eles uma mulher. Apesar do empenho em arrancar a confissão de Vera, o sargento não age de forma brutal, com truculência. Embora firme, em nenhum momento ele levanta a voz para a interrogada, um comportamento que não é comum em um policial, principalmente diante de um acusado vindo das camadas mais baixas. É como se ele (e os auxiliares) estivessem cientes de que aquela mulher praticou um delito, sim, mas com a intenção de praticar o bem, tanto que não o fez para ganhar dinheiro. E na penúltima cena, já na prisão, quando Vera vai subindo uma longa escada, a guarda recomenda-lhe cuidado para não cair.
Com mais esse êxito em sua carreira, o inglês Mike Leigh comprova que é um dos cineastas mais interessantes do cinema contemporâneio.

3 comentários:

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