quarta-feira, abril 06, 2005

A QUE CHEGA EM CERTAS MANHÃS

Lia um texto num jornal e a certa altura o autor disse algo que me trouxe uma inesperada alegria. Uma revelação, mas feita de passagem, talvez porque, para ele, o fato não tenha o mesmo valor que para mim. Diferentemente de quando você está conversando com um amigo e ele diz de alguma coisa que lhe ocorre com certa frequência e você, surpreendido, exclama "mas isso também acontece comigo" , e os dois começam a falar daquilo que têm em comum. Não, o autor disse aquilo no meio de uma frase longa, como se fora um breve parêntese, e, no entanto, senti uma grande alegria por saber que aquele estranho, com quem, certamente, jamais me encontrarei, e eu nos uníamos naquela ocorrência.
É o seguinte. Em certas manhãs acordo e enquanto permaneço deitado por algum tempo, me deixando envolver por um restinho de sono, chega-me, de repente, a lembrança de uma determinada música. Mas aí está o detalhe: não é uma música de um CD que tenha adquirido há pouco e venha ouvindo com frequência; não, é uma música que fez parte da minha infância ou da minha juventude e que nunca mais ouvi. E agora ela está nos meus ouvidos, como se viesse de um rádio, ou de outro aparelho, ali ao meu lado. Só que, ao contrário do que se a estivesse realmente ouvindo, ela não tem um tempo de duração, pois permanece grudada nos meus ouvidos quando, enfim, me levanto e vou fazer o asseio matinal e durante uma parte do dia.
Haverá uma explicação para isso? Quem sabe o Dr. Freud tenha. Mas é até melhor que não haja, que o fato permaneça como um desses indevassáveis mistérios da mente humana. O bom é que essas músicas, que julgava apagadas das minhas lembranças, retornem no alvorecer de certos dias, deixando-me "ouvi-las" depois de tantos e tantos anos. E já estou pensando em qual será a próxima.

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